Uber Implementa Função de Corridas Só para Mulheres nos EUA
A nova funcionalidade surge como resposta a inúmeras denúncias de assédio registradas por usuárias da plataforma. Enquanto isso, no Brasil, algumas empresas de transporte já vêm adotando iniciativas semelhantes para garantir mais segurança às mulheres.
Carlos ABM
7/25/20254 min read


(A Uber anunciou um novo recurso nos Estados Unidos que permite que mulheres motoristas e passageiras escolham realizar viagens apenas com outras mulheres. A novidade foi desenvolvida como resposta direta ao crescente número de denúncias de assédio e visa oferecer uma experiência mais segura e confortável para usuárias do aplicativo. Inicialmente, o projeto será testado nas cidades de Los Angeles, São Francisco e Detroit, em um programa-piloto que deve avaliar a aceitação e eficácia da iniciativa. Com a nova função, motoristas mulheres poderão limitar suas viagens apenas a passageiras, enquanto as usuárias poderão selecionar motoristas do mesmo gênero no momento da solicitação da corrida ou ajustar essa preferência nas configurações do aplicativo. A proposta surge em um cenário onde apenas 20% dos motoristas da plataforma são mulheres, o que evidencia uma lacuna significativa de representatividade e segurança no setor de mobilidade urbana.
Segundo a vice-presidente de operações da Uber, Camiel Irving, a medida atende a um desejo frequente relatado por mulheres em todo o país, que pediam maior controle sobre com quem compartilham o carro. Pesquisas internas mostram que 75% das passageiras apoiam a novidade. A empresa já vinha testando e implementando outras funcionalidades de segurança, como a possibilidade de gravar o áudio e o vídeo das corridas, com os arquivos sendo criptografados e acessíveis apenas em caso de denúncia formal. A ideia é ampliar os mecanismos de proteção para ambos os lados — passageiras e motoristas — em situações onde o risco de assédio ou má conduta possa surgir. A ferramenta de pareamento por gênero já havia sido lançada pela Uber em 2019, na Arábia Saudita, após o país liberar que mulheres dirigissem. Desde então, a funcionalidade foi expandida para mais de 40 países, acumulando mais de 100 milhões de viagens realizadas por meio dela.
Os dados que embasam a decisão da Uber são alarmantes. Em seu relatório de segurança mais recente, a empresa revelou que entre 2020 e 2022 foram registradas 2.717 denúncias de agressão sexual e má conduta nos Estados Unidos, incluindo casos graves. Atualmente, a Uber responde a mais de 2.300 processos envolvendo relatos de violência e assédio sexual. A maioria das denúncias parte de passageiras, mas também há registros de motoristas mulheres que sofreram abusos. Uma das alegações mais comuns nos processos judiciais é a de que a ausência de um sistema de pareamento por gênero contribuiu diretamente para os incidentes. Recentemente, um juiz americano autorizou que as vítimas levem esse argumento adiante na Justiça, fortalecendo a necessidade de medidas preventivas mais eficazes e específicas, como o novo recurso lançado.
O medo e a sensação de insegurança são fatores que impactam diretamente a rotina e os ganhos de motoristas mulheres. Muitas evitam trabalhar em horários noturnos ou em determinadas regiões por receio de situações perigosas, o que limita sua renda. Um estudo da Universidade de Stanford apontou que motoristas mulheres na Uber ganham, em média, 7% a menos que os homens. O motivo está justamente na escolha de rotas mais seguras, menor disponibilidade e maior taxa de desistência: elas têm mais chance de abandonar a plataforma nos primeiros seis meses de atividade. Com o novo recurso de pareamento por gênero, a Uber espera tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo e acolhedor para mulheres, estimulando sua permanência e crescimento dentro do ecossistema da mobilidade urbana.
Embora a novidade ainda não tenha previsão de chegada ao Brasil, empresas locais já implementam estratégias similares. A 99, por exemplo, conta com a função 99Mulher, que permite que motoristas recebam apenas chamadas de passageiras quando o recurso está ativado. O app também utiliza inteligência artificial para identificar situações de risco em tempo real e, quando necessário, redirecionar corridas para motoristas com melhores avaliações ou do mesmo gênero. A empresa afirma que, após a implantação da ferramenta, houve uma queda de 45% nos registros de assédio em 2021. Esse dado reforça a eficácia de ações que priorizam segurança e bem-estar das usuárias, especialmente em um país onde o transporte público e privado ainda apresenta riscos frequentes para mulheres.
No mercado brasileiro, o Lady Driver é outro exemplo de solução voltada exclusivamente ao público feminino. Criado em 2017 por Gabryella Corrêa, após ela própria ser vítima de assédio em uma corrida, o aplicativo funciona exclusivamente com motoristas e passageiras mulheres. Além do transporte convencional, a plataforma oferece corridas para crianças e idosos. Segundo a empresa, já foram feitos mais de 8 milhões de chamados e o app ultrapassou 1,5 milhão de downloads. A proposta do Lady Driver não é apenas garantir a segurança física das usuárias, mas também criar um ambiente de confiança e empatia, o que se reflete em altos índices de fidelização e avaliações positivas.
Fora do Brasil, outras empresas também vêm apostando em soluções semelhantes. A Lyft, principal concorrente da Uber nos Estados Unidos e Canadá, lançou em 2023 um recurso que permite a motoristas e passageiras mulheres, além de pessoas não binárias, priorizarem o pareamento com outras mulheres. Ao contrário da Uber, essa funcionalidade da Lyft não garante a exclusividade no pareamento, apenas prioriza as correspondências de acordo com a preferência informada. Ainda assim, a receptividade foi alta: cerca de 67% dos motoristas elegíveis ativaram o recurso. Essa tendência revela um movimento global de adaptação tecnológica voltada para segurança e inclusão de gênero no setor de transporte por aplicativo, com foco em restaurar a confiança das usuárias e reduzir as taxas de abandono da plataforma.
Diante de tantas estatísticas alarmantes e de uma demanda cada vez mais explícita por ambientes mais seguros, a tecnologia se consolida como uma aliada essencial na luta contra o assédio e a violência de gênero. Ferramentas de pareamento por gênero, sistemas de monitoramento em tempo real, inteligência artificial para identificação de riscos e canais mais ágeis de denúncia estão transformando o mercado de mobilidade. À medida que essas iniciativas se espalham pelo mundo, espera-se que empresas se comprometam ainda mais com políticas de inclusão, respeito e segurança, garantindo que todas as pessoas possam se deslocar com tranquilidade, independência e dignidade.